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Como a Engenharia pode contribuir para garantir os direitos humanos


Créditos: Arquivo CREA-RS

No dia 11 de dezembro, é celebrado o Dia do Engenheiro. A data remete à regulamentação da profissão, que foi oficializada em 1933 pelo Decreto de Lei nº 23.569. Pela lei, foram reconhecidas as profissões de engenheiros civis, arquitetos e agrimensores. Juntamente à regulamentação, foi  fundado o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea). Desde 2011, passou a ser denominado Conselho Federal de Engenharia e Agronomia.

Um dia antes (10 de dezembro), mas no ano de 1948, foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Entre os direitos estabelecidos pela carta estão o de que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e que todo ser humano tem direito à vida a condições justas e favoráveis de trabalho.



Mas qual é a ligação entre as duas datas? Para que todos os direitos sejam garantidos, é preciso que a sociedade, em suas diferentes esferas, se mobilize, inclusive a Engenharia. Muitos profissionais pensam dessa forma e fazem com que a vida de muitas pessoas seja mais digna, graças à Engenharia.

Para o Eng. Agrônomo Paulo Rigatto, 1º vice-presidente no exercício da Presidência do CREA-RS, a Engenharia pode contribuir com o bem-estar e os direitos humanos através da sua liderança. Segundo Rigatto, os engenheiros e profissionais das áreas tecnológicas são a grande maioria dos CEOs das organizações do mundo. Sendo assim, os Engenheiros têm grande responsabilidade pelas deliberações e pelos rumos da sociedade.

Por isso, a formação educacional deve capacitar líderes eficazes, empáticos e humanos, segundo ele, visto que “essas pessoas terão um impacto importante no desfecho de como a sociedade irá se organizar e distribuir os benefícios gerados não só pela atividade dessas organizações, mas pela conjugação de todas elas em conjunto que, em última instância vai afetar a vida de todos nós, tecnologicamente e socialmente, a nível do bem-estar”.

Para a Eng. Nanci Walter, eleita presidente do CREA-RS para a gestão 2021-2023, o compromisso da Engenharia com o desenvolvimento sustentável está relacionado também ao seu compromisso com os direitos humanos. Ela lembra que, em seu plano de gestão, se comprometeu com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os ODS foram estabelecidos em 2015, durante uma Cúpula de Desenvolvimento Sustentável na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) pelos 193 países membros. “Pretendemos colocar em prática. Temos que correr, já estamos em 2020, e as metas são para 2030. Vamos exercitar essa questão da engenharia e sua relação com os direitos humanos”, diz.



Para a Eng. Nanci, faz parte do compromisso da Engenharia com os direitos humanos pensar nas próximas gerações. “Precisamos cada vez mais aplicar nas nossas profissões a Engenharia sustentável. Cada vez que nós idealizamos, projetamos e executamos, nós precisamos lembrar que devemos deixar o mundo mais justo e inclusivo, de tal forma que a gente utilize os recursos naturais com responsabilidade, pensando nas futuras gerações”, acredita.



Para o Eng. Luís Roberto Andrade Ponte, presidente da Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs), a relevância social da Engenharia está no fato de que toda atividade que o ser humano necessita para produzir os bens essenciais para sua vida precisa da Engenharia, desde a medicina até a plantação. “É mediante a Engenharia que se pode alcançar o desenvolvimento”, conclui.



Para a Engenheira e professora universitária Caroline Raduns, a Engenharia têm importância fundamental na garantia dos direitos humanos. Em se tratando do direito à vida e ao meio ambiente, ela acredita que propor para a sociedade soluções baseadas no equilíbrio e preservação, que garantam conforto e bem-estar também para as próximas gerações é papel dos engenheiros. 

Além disso, ela lembra que um dos direitos trazidos pela carta é o de segurança. “Quando nos sentimos seguros? Nos sentimos seguros quando estamos livres de perigos, incerteza... isso significa uma situação em que não há do que temermos”, explica. Segundo ela, há muitas razões para nos sentimos seguros e uma delas tem relação com o acesso e o uso da energia. “Nós temos segurança no sistema energético? Como seria o local em que vivemos sem acesso a energia?”, questiona. A área das engenharias, segundo a professora, tem um papel importante nessa reflexão e proposição de ações que garantam o direito à vida, liberdade e segurança, considerando os conceitos de equilíbrio e harmonia.

Pensando nesta responsabilidade social da engenharia e da universidade pública, Carolina e as professores Taciana Paula Enderle, Fernanda Cunha Perreira e Joice Oliveira construíram, na Unijuí, o projeto de extensão Meninas que Engenham o Futuro. Financiado pelo pelo CNPQ, o projeto visa promover no ambiente escolar a disseminação de conceitos de racionamento energético e uso racional de água. Entretanto, não é só isso, como explica Caroline: “junto disso, quer repensar o papel das mulheres no mercado de trabalho. Para uma sociedade mais justa, ética e democrática é necessário quebrar os paradigmas e ocupar espaços que até pouco tempo era exclusivo dos homens”.



O Eng. Luis Henrique Nunes Motta destaca que a engenharia tem sido protagonista em todas as áreas do conhecimento. “Ela se torna indispensável para a ampliação das infraestruturas, para melhoria da qualidade dos serviços prestados à sociedade e para resolução de problemas de caráter econômico e social”, explica. Ele ressalta a participação da Engenharia no enfrentamento da pandemia do Covid-19.  “Destaco efetivamente esse papel social da Engenharia na melhoria das condições de vida e saúde de todos nós”, diz.

Apesar de destacar sua relevância social, ele acredita que ainda é possível fazer mais. “A Engenharia pode ser mais efetiva, participativa e contribuir de forma mais sólida na solução desses grandes problemas que enfrentamos. Isso tudo é uma engrenagem que desencadeia problemas de saúde, violência... então a Engenharia deve ter um papel mais importante de participação junto às comunidade”, acredita.

Pensando nisso, ele fez parte do Projeto Água na Escola da Comunidade Cerro do Ouro, um exemplo, segundo o Engenheiro, de como a Engenharia pode fazer mais. O projeto levou água potável para a escola municipal e grande parte da comunidade de Cerro do Ouro, localizada no interior de São Gabriel. Na segunda etapa do projeto, o objetivo é contemplar mais pessoas.



Para o Engenheiro Civil Ricardo Rover, vice-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, todas as engenharias têm um papel social muito importante, que ele resume na “utilização de conhecimentos técnicos e qualificados pelo bem da sociedade”.

Ele ressalta, entretanto, que esse papel vai além de desenvolver produtos. “é preciso levar consciência ambiental às pessoas, porque as pessoas, para modificarem sua forma de agir, têm que modificar sua forma de pensar”, acredito. Sendo assim, ele diz que a ABES promove eventos e reuniões nas comunidades mais carentes que realmente tragam alguma diferença na vida das pessoas. que vivem nas comunidades mais carentes.

Por outro lado, o Engenheiro diz que para que a transformação realmente seja profunda, “é importante que haja comprometimento de governos e iniciativas de empresas para que efetivamente se alcance o aporte necessário para que essas mudanças se promovam”.

Uma das áreas em que a Engenharia atua e que é fundamental para a qualidade de vida das pessoas é o saneamento. Ricardo diz que o saneamento tem uma relação direta com o meio ambiente e, portanto com os direitos humanos, visto que o abastecimento de água, o esgotamento sanitário, a drenagem urbana e o tratamento de resíduos sólidos (eixos do saneamento) são fundamentais para a saúde.


Da mesma forma pensa o Eng. Civil José Homero Finamor. “Não se vive em uma cidade sem saneamento”, explica. E, para haver saneamento, é preciso haver Engenharia. “Hoje, o conceito de saneamento básico no Brasil é água tratada, coleta e tratamento do esgoto sanitário, do esgoto pluvial e do lixo. Então não existe uma cidade se não tiver saneamento, e isso tem tudo a ver com engenharia, porque o saneamento surge dos grandes projetos e obras de Engenharia”, defende.



Para Gabriel Gabriel Chiele, estudante de Engenharia Civil na UFRGS e diretor geral da ONG Engenheiros Sem Fronteiras de Porto Alegre,  o principal papel da engenharia e dos profissionais da engenharia é levar os conhecimentos adquiridos nas universidades para quem realmente precisa desses serviços. É este o objetivo da ONG, uma associação sem fins lucrativos que atua a fim de promover uma engenharia mais humana e sustentável.

Érica Cremer foi uma das pessoas beneficiadas pelo projeto. Moradora da Vila Pedreira, situada na capital, ela teve seu banheiro reformado e uma caixa d’água instalada. Ela e outros moradores da região sofrem com a falta de água frequente. “Nunca tive isso na vida e agora estou tendo, graças ao bom Deus”, disse. Os Engenheiros Sem Fronteiras construíram uma pia em seu banheiro, que antes não existia, consertaram uma janela e a descarga, realocaram o chuveiro e pretendem colocar azulejos no piso. “Essas pessoas que moram em comunidades no Brasil todo, elas são invisibilizadas tanto pelos governos quanto pelas empresas, então é nosso papel, como cidadãos, levarmos mais dignidade à vida delas”, defende.

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